O CLA, do inglês Conjugated Linoleic Acid, é um ácido graxo poliinsaturado essencial (nosso corpo não fabrica) encontrado naturalmente nas gorduras de animais ruminantes, ou seja, em produtos lácteos (leite, iogurtes, queijos e manteiga) e carnes bovinas, principalmente. Estudos e pesquisas têm mostrado que a carne do gado que se alimenta de pasto (boi orgânico) contém até 4 vezes mais CLA do que o que se alimenta com ração.
Não foram só as vacas que mudaram a alimentação, as pessoas também. Frente à epidemia de obesidade que assola o mundo, assim como a alta prevalência de dislipidemias (colesterol e triglicérides altos) e sedentarismo, é cada vez mais comum o uso de dietas com baixos teores de gorduras e, conseqüentemente, baixa ingestão de Ácido Linoleico Conjugado. Desta forma, ele tem sido amplamente comercializado, como suplemento (importado) com a alegação de proporcionar queima de gordura corporal e aumento de massa muscular, além de possíveis efeitos anticarcinogênicos, antiaterogênicos (que previne a formação de placas de gordura nas artérias) e promoção da melhora no metabolismo e perfil sanguíneo de gorduras e açúcares.
O QUE DIZEM OS ESTUDOS SOBRE O USO DO CLA EM ANIMAIS E EM HUMANOS?
Segundo revisão bibliográfica publicada em maio/junho de 2005 no Brazilian Journal of Nutrition - Revista de Nutrição da Puccamp:
“Especialmente em camundongos, o CLA parece afetar substancialmente a composição corporal pela redução de tecido adiposo, porém de forma mais lenta do que em ratos.
Ainda não existem comprovações científicas de que a suplementação com CLA reduza o peso corporal ou o índice de massa corporal em humanos, porém algum efeito relacionado à redução do tecido adiposo parece ocorrer com doses acima de 3g de CLA por dia, especialmente na região abdominal de homens obesos, e no tecido muscular esquelético.
Existem alguns indícios de que indivíduos pós-obesos, em novo ganho de peso, sejam mais suscetíveis aos efeitos do CLA do que os de peso estável; assim como homens obesos em relação a mulheres obesas. Contudo, essas suposições ainda são inconsistentes devido à grande variabilidade nos delineamentos experimentais, especialmente quanto à dose, ao tipo de isômero(s) usado(s), e ao tempo de intervenção.
Também o uso de diferentes métodos para a avaliação da composição corporal pode contribuir negativamente para a comparação entre estudos. Entretanto, segundo Riserus et al., a ausência de resultados positivos do CLA em reduzir tecido adiposo pode estar mais associada ao número reduzido de participantes em estudos com humanos do que a erros relacionados aos métodos de avaliação da composição corporal.
É importante ressaltar ainda que alguns efeitos indesejáveis relacionados ao uso do CLA foram encontrados tanto em estudos com humanos quanto em animais, como aumento da resistência à insulina, aumento da glicose e insulina de jejum; elevação da peroxidação lipídica, redução da HDL-colesterol em indivíduos com síndrome metabólica (dislipidemia, hipertensão).
CONCLUSÃO
Muitas dúvidas ainda permanecem com relação aos reais efeitos do CLA na modificação da composição corporal em humanos. Assim, faz-se necessário o desenvolvimento de mais pesquisas que, entre outras coisas, avaliem separadamente os efeitos dos dois principais isômeros do CLA em humanos, e também estudos incluindo medidas de atividade enzimática, como, por exemplo, lipase lipoprotéica e lipase hormônio sensível, a fim de esclarecer os reais mecanismos de ação do CLA, e para uma melhor avaliação da hipótese de aumento da lipólise (queima de gordura) e/ou redução da lipogênese (depósito de gordura corporal). Assim será possível avaliar melhor os efeitos desses Ácidos Graxos no metabolismo energético em humanos, para que então possam ser usados com segurança e eficiência nas prescrições relacionadas à melhoria da composição corporal e como agente anti-obesidade.”
Referências Bibliográficas:
1. MOURAO, Denise Machado, MONTEIRO, Josefina Bressan Resende, STRINGHETA, Paulo César et al. Conjugated linoleic acid and weight loss. Rev. Nutr., May/June 2005, vol.18, no.3, p.391-399. ISSN 1415-5273.
2. J.M. Gaullier et al, American Journal of Clinical Nutrition, Vol. 79, No. 6, 1118-1125, June 2004
3. Spruce, N, Titchenal, A., An Evaluation of Popular Fitness-Enhancing Supplements, Evergreen Comminications, 2002, 173-175.
4. CHOI et al., The trans-10, cis-12 isomer of conjugated linoleic acid down regulates stearoyl-CoA desaturase 1 gene expression in 3T3-L1adipocytes.J Nutr 2000Aug;130(8):1920-4
5. LEE et al. Conjugated linoleic acid decreases hepaticstearoyl-CoA desaturase mRNA expression. Biochem Biophys Res Commun 1998 Jul 30;248(3):817-21
6. NATIONAL DAIRY COUNCIL - Emerging Health Benefits of CLA (conjugated Linoleic acid).
Texto de Marília Fernandes
Leitura adicional:
Índice de Massa Corporal - IMC - Peso Saudável e ideal
Ácido Linoléico Conjugado - CLA