Pela primeira vez na literatura médica o monóxido de carbono (CO), decorrente do tabagismo, foi correlacionado ao aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial diastólica (a mínima).
O estudo, realizado pela cardiologista Maria Alice Melo Rosa Tavares Silva, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), também concluiu que os tabagistas têm a capacidade elástica do sistema arterial reduzida em até seis vezes, quando comparada com a de não-fumantes. "Há algum tempo já se fala em alterações circulatórias ocasionadas pelo fumo, mas nunca havia sido feita uma correlação", revela.
A pesquisa ainda constatou outras alterações clínicas relevantes no sistema cardiovascular dos fumantes. A pressão arterial sistólica (a máxima), assim como a freqüência cardíaca, sofreram significativas elevações após o consumo de um cigarro, sendo que estes efeitos podem durar até vinte minutos. Além disso, os tabagistas apresentavam, em média, concentrações de CO quatro vezes maior no ar expirado quando comparado ao grupo não-fumante, mesmo após ficarem 12 horas sem fumar.
Segundo Maria Alice, "do ponto de vista prático, o interessante deste trabalho é que agora podemos entender melhor os mecanismos pelos quais ocorrem algumas alterações hemodinâmicas clínicas nos fumantes". A pesquisa da elasticidade do sistema arterial tomou por base dados obtidos pela ultra-sonografia da artéria braquial, localizada na região interna do cotovelo, considerada como artéria de médio calibre. No entanto, ela afirma que os efeitos podem ser reproduzidos tanto para os vasos arteriais grandes quanto os pequenos, pois compartilham diversas propriedades estruturais.
De um modo geral, estas reações do organismo ao tabagismo podem ser responsáveis por uma vasta gama de complicações cardiovasculares. Entre os possíveis males estão infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e insuficiência vascular periférica, que pode chegar a causar gangrena de extremidades, como pé e dedos. "A alteração mais danosa para o indivíduo seria o aumento na pressão diastólica, provocada principalmente pela perda da elasticidade das artérias", explica Maria Alice.
PESQUISA
"Agora, a idéia é aumentar o número de pacientes, estratificando os dados por idade, tempo de uso do tabaco e número diário de cigarros." Também pretende-se estudar os fumantes sem que seja feita a abstinência prévia, na tentativa de reproduzir as verdadeiras condições basais da rotina diária. A professora diz que as descobertas abrem precedentes para a realização de várias pesquisas, como correlacionar outras substâncias do cigarro (amônia, cetonas, benzeno, formol) com alterações hemodinâmicas e propriedades elásticas do sistema arterial.
O estudo foi realizado com base em comparações de dois grupos de voluntários sadios entre 18 e 60 anos, sendo 25 fumantes e 20 não fumantes, e que não tinham fatores de risco, como hipertensão, diabetes e colesterol alto. Para que as condições basais fossem iguais, foi exigida uma abstinência de cigarro de 12 horas, jejum e um mínimo de 8 horas de sono.
Realizada no Laboratório de Investigação Clínica da UTI do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP, a pesquisa contou com a orientação da professora Sílvia Helena Gelás Lage.
Créditos: André Benevides.
Fonte: Agência USP de Notícias
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